" Cada pessoa se alimenta do que lê, do que escuta, do que vê, de tudo que recebe do mundo e incorpora a si, assim como absorve um perfume. E se torna um pouco daquilo que fala, que ouve e toca. Se suas idéias e pensamentos são partes construtivas do seu ser, cada um doa seus conteúdos ao mundo ao expressá-los através de suas palavras e gestos ".

I Ching --- Livro : Medicina Integrativa - A cura pelo equilíbrio - Paulo de Tarso Lima.



domingo, 28 de junho de 2009

A MINHA FELICIDADE NÃO É A SUA - MARTHA MEDEIROS

Texto enviado pela querida amiga e irmã Roseane Martins,lá de Apucarana - PR .



No livro de Carlos Moraes, o ótimo "Agora Deus vai te pegar lá fora", há
um trecho em que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major:

- "Por que você não é feliz como todo mundo?"
A que ela responde mais ou menos assim:
"Como o senhor ousa dizer que não sou feliz? O que o senhor sabe do que eu
digo para o meu marido depois do amor? E do que eu sinto quando ouço
Vivaldi? E do que eu rio com meu filho? E por que mundos viajo quando leio
Murilo Mendes? A sua felicidade, que eu respeito, não é a minha Major."

E assim é. Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo
com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser
visualizado.
Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e
imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas
por problemas tortuosos. Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre
sujeito.

É nestas horas que junto a ponta dos cinco dedos da mão e
sacudo-a no ar, feito uma italiana indignada:

- Mas que sabemos nós da vida dos outros?

Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém
está nos vendo. O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um
adolescente de volta pra casa. O cálice de vinho oferecido por uma amiga
com quem acabamos de fazer as pazes. Sentar-se no cinema, sozinho, para
assistir ao filme tão esperado. Depois de anos com o coração em marcha
lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir
palpitações.

Os acordos secretos que temos com filhos, netos, amigos. A emoção provocada por uma frase de um livro. A felicidade de uma cura. E a infelicidade aceita como parte do jogo - ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades.

O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio?

Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas.

Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter - juízes indefectíveis que somos da vida alheia - mas é um atrevimento nos outorgar o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz.

A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém.

Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer
descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é
capaz de desfazer para manter-se sã.

Toda felicidade é construída por emoções secretas.

Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só com a nossa permissão.

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